232. BLACK SABBATH - BORN AGAIN

A saída de Ozzy Osbourne do Black Sabbath causou abalos de proporções sísmicas na banda. Trocar de vocalista já é algo traumático para grupos que mantém sua formação inicial por muito tempo. Trocar esse membro sendo ele alguém com o carisma de Ozzy é missão ainda mais difícil e inglória. Isso sem citar o peso da responsabilidade em cima do sucessor. Ronnie James Dio ao assumir o posto em 1980 fez o que parecia improvável, além de suprir a carência da ausência do vocalista original da banda, ainda abriu um leque gigantesco de novas possibilidades líricas e criativas para a banda inglesa. Mas o que parecia consolidado e muito bem resolvido rapidamente esbarrou em um muro gigantesco e praticamente intransponível dentro desse mundo, o nome desse muro, obviamente, EGO. Então, com a saída de Ronnie logo após o lançamento de seu terceiro registro com o Sabbath, o disco ao vivo Live Evil, novamente se abria uma lacuna nesse posto e tinha-se inicio a uma nova busca para suprir o que parecia impossível, um substituto para o estratosférico carisma de Ozzy e, agora, para a qualidade vocal absurda imposta por Dio em seus anos no grupo.
E foi nesse momento de dúvidas, incertezas e gigantescas pressões que Iommy, Butler e Ward (de volta ao grupo), juntamente com seu empresário deram uma tacada de mestre resolvendo explodir as mentes de seus fãs, e do próprio mercado fonográfico, contratando como novo vocalista do Black Sabbath um músico com nome e uma carreira já completamente consolidados, além de um nível de respeitabilidade parelho ou até superior (naquele momento) a de seus antecessores. Além disso, a potencialidade comercial da parceria, parecia ser absurdamente superior a tudo que o grupo havia feito em todo o seu período de atividades. O nome desse vocalista? Ian Gillan, simplesmente um dos maiores vocalistas de todos os tempos e ex-membro de uma das mais importantes bandas do período, o Deep Purple. Dessa inusitada e surpreendente união, nascia em 1983 Born Again, décimo primeiro disco de estúdio dos pais do Heavy Metal.
Mas enganou-se completamente quem apostou no óbvio e achou que essa união levaria imediatamente a louros, glórias e coisas do tipo. A parceria, musicalmente, se mostrou extremamente rica, entregando aos fãs um disco fantástico e surpreendentemente variado, algo meio que inédito para a carreira do grupo até então pela diversidade de composições, ora com músicas rápidas e agressivas, ora com momentos ultra climáticos e de puro peso, a cara da banda em seus primeiros anos; além de uma espetacular balada. Toda essa qualidade contrastava com os bastidores do grupo, que se mostraram problemáticos desde o início. Partindo da chegada de Gillan, que afirmou posteriormente ter aceitado o convite do Black Sabbath em um momento de quase completa inconsciência causada por uma gigante embriaguez (na realidade o vocalista queria mesmo era proporcionar seu retorno ao Purple, o que ocorreu durante a turnê desse disco) e por estar desempregado já que sua carreira solo estava parada, passando pela controversa capa - uma piada regada a base de muita ironia que acabou sendo levada a sério e inclusive daria uma fantástica matéria a parte-, até o conteúdo em si do álbum que não foi unanimidade entre a crítica especializada.
Pessoalmente, não entendo como Born Again, mesmo tendo sido um verdadeiro sucesso comercial, possa ter sido mal recebido de qualquer forma pela crítica na época de seu lançamento. A polêmica da bizarra capa somada ao caráter conservador da maioria das pessoas em plena década de 1980 até pode justificar em partes a rejeição ao trabalho, mas esse fato de forma alguma é preponderante na análise do trabalho. Facilmente consigo apontar esse como um dos meus álbuns preferidos do Sabbath, com composições arrebatadoras como Trashed, Disturbing The Priest, Zero The Hero e Digital Bitch, além da absurdamente maravilhosa faixa título onde Ian Gillan mostra o porquê ter cravado seu nome no seleto hall de melhores vozes da história da música.
Para os muitos apreciadores desse clássico e que ainda não o possuíam em CD, finalmente o mesmo está sendo distribuído no Brasil (acredito eu que pela primeira vez) pela Voice Music em uma linda embalagem digipak. Infelizmente não se trata da versão dupla deluxe, mas apenas a ótima e já conhecida versão remasterizada que aqui recebeu uma nova apresentação, o que não desqualifica de forma alguma essa preciosidade. Recomendo!

Tracklist
01. Trashed
02. Stonehenge
03. Disturbing the Priest
04. The Dark
05. Zero the Hero
06. Digital Bitch
07. Born Again
08. Hot Line
09. Keep It Warm

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