660. BÜTCHER - 666 GOATS CARRY MY CHARIOT
Misturando a urgente e agressiva sonoridade do Power e do Speed Metal aos conceitos líricos e visuais do Black Metal, a veterana mas desconhecida banda belga Bütcher traz em seu segundo álbum, lançado nesse ano de 2020, mais um ótimo (mas cada vez mais escasso) exemplar da New Wave Of Traditional Heavy Metal. Explico a seguir o conteúdo dos parênteses.
Desde a década de 1970, quando surgem o Hard Rock e o Heavy Metal, é visível e natural o fenômeno do surgimento de grandes ondas de bandas que buscam se engajar nas tendências pela identificação de seus músicos com elas e, obviamente, pela aceitação comercial do público que consome os produtos relacionados e frequenta assiduamente quando possível os shows, muitas vezes sem nem buscar um nome em específico, mas a atmosfera e a energia do estilo. Como efeito negativo (e em vários casos, muito negativo), temos o clichê da consequente saturação dessas tendências, que terminam implodindo quando dominadas por grupos ou músicos presos em espécies de caixas criativas, que insistem na construção de sons praticamente idênticos, que não apresentam nada de novo e que acabam tornando-se infinitamente auto referentes.
Visivelmente "o inverno está chegando" para a NWOTHM e das dezenas de novas boas bandas que conhecíamos anualmente, temos agora algumas poucas que ainda são relevantes justamente por conseguir quebrar/destruir o conservadorismo sonoro de alguns dos estilos mais dogmáticos da história da música. E não é a toa que bandas como Night, Enforcer e Halläs (citando algumas já bem conhecidas no Brasil e presentes aqui no Sonorizando) tem ao mesmo atraído e repelido muita gente com seus álbuns mais recentes.
O caso do Bütcher entra nesse contexto, não por se assemelhar a qualquer uma das últimas bandas citadas, mas sim por também apresentar identidade própria dentro desse movimento. Lançado internacionalmente em 2020 pelo selo francês Osmose Productions, 666 Goats Carry My Chariot, segundo full lenght da banda, chega também ao Brasil em CD, via Urubuz Records, com todo o seu já conhecido padrão de qualidade em lançamentos.
Gravado três anos após seu disco de estreia (que confesso não ter escutado ainda), 666 Goats Carry My Chariot parece definitivamente representar a demarcação de um território que vem tentando ser ocupado desde 2002 por seu vocalista e líder Ruben "Hellshrieker" Luts. Tendo dado início ao grupo no começo do século, Ruben não parece ter encontrado em sua primeira década de atuação, ambiente para a concretização de seu projeto. Tendo entrado em hiato em 2007, o Bütcher foi retomado sete anos depois, conseguindo gravar seu debbut album apenas em 2017.
O novo álbum foi gravado por um trio, formado por Hellshrieker (voz e teclados), o guitarrista KK Ripper (que também tocou o baixo) e o baterista LV Speedhämme; e apresenta sete ótimas composições (que também podem ser descritas como pedradas), além de duas passagens curtas instrumentais, do mais puro Speed Metal com agressividade ampliada através dos vocais rasgados típicos do Black Metal de Ruben. Junto a essas fortes características, o Bütcher insere em praticamente todas as músicas, momentos mais cadenciados com bases e riffs mais ligadas ao Heavy Tradicional e refrões mais diretos e grudentos que puxam o ouvinte para dentro do álbum, que tem em seus melhores momentos as faixas Iron Bitch (Unholy Wielder Of The Blade), 45RPM Metal com uma baita homenagem ao Judas Priest, a alucinada Metallström/Face The Bütcher, a faixa título de quase dez minutos com muitas variações e Brazen Serpent e seus alucinados andamentos ligados ao Black Metal.
Vale a conferida.
Tracklist
01. Inauguration Of Steele - instrumental
02. Iron Bitch (Unholy Wielder Of The Blade)
03. 45 RPM Metal
04. Metallström/Face The Bütcher
05. Sentinels Of Dethe
06. 666 Goats Carry My Chariot
07. Viking Funeral
08. Brazen Serpent
09. Exaltation Of Sulphur - instrumental
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