765. CRYSTAL VIPER - THE CULT

Na época em que, nos Estados Unidos, maior centro consumidor de música no mundo o Heavy Metal sofria com o advento e domínio de outros estilos sonoros como o Grunge, a música alternativa e até o Hard Rock (farofa), no velho continente, sobretudo na Alemanha e outros países mais ao norte do continente, ele se adequou indo por um caminho inverso, evitando as influências vindas da América e tornando-se ainda mais épico, veloz, técnico e, muitas vezes melódico. Mudanças que se mantiveram firmes até o início do século vinte e um e que só vieram perder forças e se exaurir próximo ao fim de sua primeiro década, quando começou o movimento de reconexão da música pesada com o espírito mais cru e direto dos anos 1980.
Dentro desse período de quase duas décadas, senti como uma das maiores ausências, a de mulheres em papéis de protagonismo dentro desse gênero musical. A ausência, só não era absoluta devido as participações em bandas de Gothic Metal, quando assumiam papéis pré-estabelecidos e fixos, entoando cantos líricos para constratar com vocais guturais, criando uma espécie de embate entre luz e trevas, que eram fundamentais nesse tipo de bandas com sonoridades soturnas e melancólicas. Mas mesmo com a predominância desse papel, em paralelo, surgiram bandas que deram oportunidades a nomes como Federica De Boni (White Skull), Kimberly Goss (Sinergy) e Elisa C. Martin (Dark Moor) - citando apenas as que acompanhei com maior intensidade -, que deixaram de lado esse estigma que se criou sobre o papel feminino dentro do Metal, onde elas eram vistas dentro dessa proposta de cantos angelicais com influência da música erudita, para apostar no que o Metal sempre teve como maiores características, rebeldia, atitude e liberdade. 
A talentosíssima vocalista polonesa Marta Gabriel, em 2003 - portanto, já após o surgimento e período de auge dessas outras bandas semelhantes citadas -, montou e, mantém firme até hoje, seu Crystal Viper com proposta semelhante, ou seja, a construção de um grupo onde predomine a sonoridade clássica do Heavy Metal tradicional, mas sem deixar de lado o contexto musical e época em que nasceu, focando suas composições em temas épicos, com musicalidades fortes, agressivas e velozes. Tudo conduzido por uma potente voz que, resgata a força feminina advinda do Metal nos anos 1980, período em que Kate de Lombaert (Acid), Doro Pesch (Warlock) e Leather Leone (Chastain) entre várias outras, chutavam bundas e mostravam, com extrema propriedade, como conduzir bandas de música pesada. 
Com dezoito anos de carreira completos agora em 2021, o Crystal Viper lançou esse ano - internacionalmente pela Listenable Records e, no Brasil, pela Hellion Records -, seu oitavo full lenght, intitulado The Cult. Marta, muito bem acompanhada aqui pelos guitarristas Andy Wave (único na banda desde seu debbut album, The Curse Of Crystal Viper 2006) e Eric Juris, o baixista Blazej Grygiel e o baterista Cederick "Ced" Forsberg (aquele mesmo multi-instrumentista de inúmeros bons projetos da New Wave Of Traditional Heavy Metal - Rocka Rollas, Cloven Altar, Blazon Stone); entrega aqui mais um ótimo disco, que tem como maiores destaques as músicas mais cadenciadas e épicas como Whispers From Beyond, Sleeping Giants, Forgotten Land, Asenath Waite e The Calling, que a meu ver se encaixam melhor com o próprio perfil da vocalista e da banda e, obviamente, com a proposta conceitual do disco.
Além dessas ótimas faixas, The Cult apresenta como bônus, uma excelente cover para Welcome Home, excelente faixa do terceiro álbum de estúdio do King Diamond, Them.  Com participação especial do próprio guitarrista da banda dinamarquesa, Andy De La Roque, Marta mostra aqui sua incrível versatilidade e alcance vocal, mostrando ser hoje, uma das melhores vocalistas em atividade, dentro de seu estilo.

Tracklist
01. Providence - instrumental
02. The Cult
03. Whispers From Beyond
04. Down In The Crypt
05. Sleeping Giants
06. Forgotten Land
07. Asenath Waite
08. The Calling
09. Flaring Madness
10. Lost In The Dark
11. Welcome Home (King Diamond cover)

Official Lyric Video - Asenath Waite

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