777. ALICE COOPER - DETROIT STORIES

O fato banal e inconteste de que todos envelhecemos, além de uma das grandes verdades e leis absolutas que regem a vida humana (exceto, obviamente, para os que partem antes, por motivos diversão), é a lei que iguala absolutamente todas as pessoas que por aqui passam. Mesmo assim, com o óbvio esfregado nas caras de todos, algumas pessoas tem ainda muitas dificuldades em aceitar essa dura realidade do que outras, que entendem que o passar do tempo nos gera, gradativamente e indiscriminadamente, limitações (principalmente físicas), e que por isso devemos ter sabedoria e força para nos reinventarmos e continuarmos, dentro das possibilidades de cada um, atuando.
Filosofias de boteco a parte, parece que esse necessário entendimento faz parte das carreiras de alguns grandes nomes da música, sendo alguns dos maiores exemplos o Deep Purple, que em seus últimos álbuns fez uma verdadeira reformulação em sua carreira, apresentando canções que encaixam-se perfeitamente às atuais competências de seus septuagenários músicos. Com a carreira de Vicent Damon Furnier, nosso querido Alice Cooper, o entendimento do avançar da idade física deve ter sido o mesmo (Alice completou 73 anos em 2021), mas o resultado da aceitação e o reflexo disso em sua música, parece ser ainda melhor, já que atualmente temos um maravilhoso resgate da sonoridade dos discos lançados pelo vocalista na primeira metade da década de 1970 (Love It To Death, Killer, School's Out e Billion Dollar Babies), quando era acompanhado da "Alice Cooper Band", formada pelos guitarristas Glen Buxton e Michael Bruce, o baixista Dennis Dunaway, o baterista Neal Smith e, principalmente, o genial produtor Bob Ezrin.
Participando ativamente dos processos de composições dos álbuns gravados durante a década de 1970, Bob pode facilmente ser considerado um dos integrantes (daqueles mais importantes) da banda e, entre idas e vindas, continou acompanhando a carreira de Alice, mesmo após a dissolução do grupo em 1974, por fases que, apesar de particularmente achar menos atrativas musicalmente, chegaram até a ser comercialmente explosivas. Em 2011, uma década atrás, Alice Cooper decidiu resgatar o espírito de sua melhor fase, gravando uma segunda parte para um de seus maiores clássicos, o excelente Welcome To My Nightmare (1975). A gravação do disco foi, para mim, uma verdadeira virada de chave na carreira do músico, que passou a revisitar, de forma cada vez mais intensa, a sonoridade daquele brilhante período. Em 2017, o musico lançou o Paranormal, que além de trazer ótimas canções que concretizaram essa ideia de resgate, proporcionou o reencontro do vocalista com alguns de seus companheiros da Alice Cooper Band, como Neal, Dennis e Michael e trouxe também importantes participações especiais como as de Larry Mullen Jr. do U2 , Roger Glover do Deep Purple , Billy Gibbons do ZZ Top.
Em 2021, Alice apresentou o vigésimo primeiro disco de sua carreira solo - que é o vigésimo oitavo de toda sua trajetória - trazendo mais uma vez a produção caprichada de Bob Ezrin, e uma nova série de participações especiais (além do trio remanescente da A.C.B., nomes como Joe Bonamassa e Mark Farner do Grand Funk também marcam presença) em canções de pura nostalgia e homenagem à sua cidade natal, que em nenhum momento soam datadas. Detroit Stories traz uma gama incrível de composições que são puro anos 1970 e que remetem exatamente ao melhor da sonoridade da Alice Cooper Band ou seja, muito Hard Rock com deliciosas pitadas de Punk Rock, Blues e Classic Rock.
Soando como um grande brinde à cidade de Detroit (que já havia recebido uma homenagem memorável do Kiss, com sua imortal Detroit Rock City, do álbum Destroyer, também produzido por Bob Ezrin), que gestou uma das mais importantes cenas do Rock N' Roll Norte americano, berço de nomes lendários da música como The Stooges, MC5, Cactus (além do próprio Alice Cooper). Detroit Stories  faz sua homenagem apresentando várias canções inéditas, todas muito bem inspiradas nos anos 1970, como as ótimas Go Man Go, Independence Dave,  I Hate You, Wonderful WorldHanging On by a Thread (Don't Give Up); além de inserir de forma cirúrgica maravilhosas versões para canções que fazem parte da História do Rock e que são, de alguma forma, conectadas à cidade, como Our Love Will Change The World do Outrageous Cherry, Sister Anne do MC5 e Rock & Roll  do grupo novaiorquino The Velvet Underground.
Então, se temos músicos que "souberam envelhecer" bem e, através dessa sabedoria, conseguiram melhorar significativamente os caminhos de suas carreiras, continuando a mostrarem-se amplamente relevantes e necessários, é impossível não incluir no topo da lista o nome de Vicent Damon Furnier, vulgo Alice Cooper que, em 2021, caminha a passos largos para o aniversário de seis décadas de carreira e, já possuindo um absurdo legado de quase trinta discos de estúdio lançados e mais outros tantos no formato ao vivo e em compilações.
Detroit Stories, lançado internacionalmente pela e.a.r Music, foi licenciado no Brasil pela Shinigami Records, que a exemplo do que fez em Paranormal e em seu sucessor, o ao vivo A Paranormal Evening With Alice Cooper At The Olympia Paris, apresenta o material em mais uma edição super especial, em formato digipak e, dessa vez, trazendo como disco bônus justamente o que faltou no lançamento anterior, ou seja, o DVD do show em Paris, gravado durante sua última turnê e, até então, apresentado aqui apenas através de seu áudio.  

Tracklist
01. Rock & Roll (The Velvet Underground cover)
02. Go Man Go
03. Our Love Will Change The World (Outrageous Cherry cover)
04. Social Debris
05. $1000 High Heel Shoes
06. Hail Mary
07. Detroit City 2021
08. Drunk And In Love
09. Independence Dave
10. I Hate You
11. Wonderful World
12. Sister Anne (MC5 cover)
13. Hanging On by a Thread (Don't Give Up)
14. Shut Up and Rock
15. East Side Story" (Bob Seger & The Last Heard cover)


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