460. ANGRA - ØMNI

O nono album de estúdio do Angra, Omni, representa para mim o início de uma espécie de terceira grande consolidação de uma das mais importantes bandas da história do Heavy Metal nacional. Da dificuldade em perder seu primeiro vocalista (Andre Matos, R.I.P. 2019) no momento do auge comercial e criativo, até a superação da saída do segundo (e consolidado) vocalista Edu Falaschi e, recentemente, do guitarrista Kiko Loureiro, que além de fundador do grupo era um dos seus maiores compositores, vimos a banda se reerguendo, ou "renascendo", como sugerido no título de um dos discos mais importantes de sua ótima discografia. 
Com o lançamento de ØMNI em 2018, o guitarrista e único membro fundador, Rafael Bittencourt,  apresenta a seu público Marcelo Barbosa (Almah) como substituto de Loureiro, e mantém o restante da formação do álbum antecessor, Secret Garden (2015), com Felipe Andreoli no baixo (na banda desde 2001), o vocalista italiano Fabio Lione (Rhapsody, Labirinth) e o baterista Bruno Valverde. E é exatamente a enorme e surpreendente química existente entre os novos membros e veteranos do grupo, além do perfeito encaixe do novo vocalista e a segura entrada de Barbosa, que apresentam essa forte sensação de estabilidade que, para mim, fortalecem a sensação pungente de re-consolidação dessa vitoriosa, mas conturbada, carreira do Angra. 
A escolha de Light of Transcendence  para abrir o álbum não me parece mera coincidência,  mas sim uma forma de ganhar o público de imediato, o que se fortalece no decorrer do trabalho com a observação de várias outras faixas mais puxadas para o Power Metal, algumas delas apresentando as conhecidas referências clássicas, sinfônicas ou regionais em suas estruturas, como Travelers of Time, Insania, War Horns (única com participação de Kiko) e Caveman. Boas músicas que solidificam  claramente o desejo de resgatar a boa fase do Angra no início dos anos 2000 e reconquistar seu espaço de direito. 
O álbum torna-se ainda mais interessante por, acredito eu, apresentar mais uma vez (o que Secret Garden deu início) alguns lampejos do que o Angra pode vir a tornar-se em um não tão distante futuro. Apesar de já ter visto falas da banda sobre a gravação de um terceiro álbum com a presença de Lione nos vocais, é indiscutivel a possibilidade de termos uma mudança nesse posto, seja por questões geográficas, por excesso de projetos do italiano ou até mesmo as "manjadas" divergências criativas. Então temos, pelo segundo álbum consecutivo, Rafael assumindo (muito bem) parcialmente ou integralmente o posto de vocalista. Em Omni essas participações ocorrem em vários momentos, ficando os destaques para as interpretações do guitarrista em The Bottom Of My Soul, e nos duetos em Travelers Of Time e na primeira parte da faixa título, ØMNI - Silence Inside. E apesar de ser óbvio que Rafael não daria conta do repertório do Angra ao vivo, seria bastante interessante ver uma ampliação de suas participações em futuros discos, inclusive em músicas mais agressivas e até "fora da caixinha" de sua banda. 
A divulgação de ØMNI também veio acompanhada de polêmicas que nada tem a ver com a qualidade do disco ou das músicas em si. A opção da banda em trazer a suave voz da cantora brasileira Sandy (sim, a do Junior) para um dueto com os guturais de Alissa White-Gluz (Arch Enemy), representando personalidades distintas de uma aranha Viúva Negra, na pesada faixa Black Widow’s Web, que também conta com a participação de Lione, trouxeram inúmeras discussões (a maioria desnecessárias) que não compensavam a sua curta participação, nem discutiam o maior problema, que é a baixa qualidade da música, independente das vocalistas. Guturais simplesmente não combinam com a sonoridade do Angra. 
Apesar de observar uma grande aceitação imediata ao trabalho, principalmente fora do país, confesso que demorei um certo tempo para assimilá-lo, principalmente levando em consideração o seu antecessor, o que refletiu diretamente na demora em escrever esse review. Mergulhar no conceito do álbum que, segundo Bittencourt, é uma viagem que busca conectar todos os outros discos do Angra, além das suas múltiplas camadas sonoras, não é algo para ser feito sem a devida atenção, nem muito menos sem as necessárias repetições. É o Angra definitivamente voltando a ser um dos gigantes de seu estilo. 
ØMNI foi gravado na Suécia, em uma segunda parceria da banda com o genial produtor Jens Bogren (Amon Amarth, Kreator, Opeth, Pain Of Salvarion) e foi lançado internacionalmente via e.a.r. music. A versão nacional saiu pela Shinigami Records

Tracklist
01. Light Of Transcendence
02. Travelers Of Time
03. Black Widow’s Web
04. Insania
05. The Bottom Of My Soul
06. War Horns
07. Caveman
08. Magic Mirror
09. Always More
10. ØMNI - Silence Inside
11. ØMNI - Infinite Nothing - instrumental

Mais Angra:
Fireworks (1998)
Temple Of Shadows (2004)
Secret Garden (2015)

Comentários

Mais uma excelente resenha Vladimir. Esse trabalho do Angra é excelente, melhor até que o superestimado Secret Garden. Mas perai é serio que tu nao gostou de Black Widow's Web?!kkkkkkk Putz esse é um dos sons que mais curti no disco!
Sonorizando disse…
Valeu meu brother! Realmente achei Black Window's Web um ponto fora da curva do disco que é ótimo. Tento escutado com bem mais atenção que na epoca do lançamento, acho ele hoje até melhor do que o tb ótimo Secret Garden. Essa formação do Angra está sensacional.

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