643. CIRITH UNGOL - FOREVER BLACK

Entre 1992 e 1993, enquanto ainda engatinhava dentro do Heavy Metal e gastava a maior parte do meu tempo conhecendo euforicamente novos discos e bandas, tive acesso a dois álbuns que chamavam atenção por motivos completamente distintos. Cultuados por alguns e ignorados/odiados por outros, Frost And Fire e King Of The Dead, primeiros discos do grupo de Epic Doom Metal dos EUA, Cirith Ungol, chegaram ao Brasil com suas capas trocadas - por um equívoco do selo RGE discos/Enigma -, faziam-se presentes em praticamente todas as coleções de discos de amigos e conhecidos, encantando pelas espetaculares ilustrações de suas capas, soberbamente desenhadas por Michael Whelan, inspirado pelas histórias criadas por Michael Moorcock para seu mais famoso personagem, Elric de Menilboné, o maior dos campeões eternos (conceito criado pelo autor para explicar a existência de heróis presentes em cada uma das muitas realidades existentes em seu complexo multiverso)  e portador da trágica espada mágica Stormbringer.
O impacto imagético dessas capas ampliava-se de forma arrebatadora aos afortunados que conseguiam conectar-se às ideias e emoções criadas pelo guitarrista Greg Lindstrom, o baterista Robert Garven e o vocalista Tim Baker. Juntos desde a primeira metade da década de 1970, o trio trazia a musicalidade mais progressiva de sua música de origem ao encontro do peso do Heavy Metal que se desenvolvia por várias partes do mundo no começo da década de 1980. Era impossível ser indiferente a todo Sangue, Suor e Ódio presente nas letras, nas brilhantes composições e, sobretudo, no peso dos instrumentos e no alucinado canto de Baker atirados furiosamente e sem nenhuma piedade em nossos ouvidos e mentes através dos alto falantes. Mas o simbólico ano de 1992 trazia também más notícias para os apreciadores do grupo norte americano. Vinte anos de carreira e quatro discos de estúdio  gravados não resistiram a conflitos criados por sua gravadora e, fizeram os músicos jogarem tudo para cima e encerrar as atividades do Cirith Ungol. Nada anormal para um período que dificilmente eles sobreviveriam sem algum tipo de desconfiguração de sua identidade.
Passados vinte e três anos, com o Heavy Metal tradicional passando por uma avassaladora nova onda de interesse artístico e comercial - que ocasionou a criação de incontáveis bandas e possibilitou o retorno de outras tantas para apresentações em festivais, turnês por todo o mundo e gravações de muitos álbuns -, Lindstrom, Garven e Baker, acompanhados do guitarrista Jim Barraza (que tocou na banda de 1988 ao seu final) e do baixista Jarvis Leatherby (Líder do Night Demon e organizador do festival Frost And Fire), finalmente anunciaram o retorno do grupo que inicialmente se restringiria a apresentações comemorativas em grandes eventos do underground.
Acervo Particular Vladimir Sousa, em 15/08/2020
Cinco anos depois desse retorno aos palcos, o multiverso de Moorcock parece se alinhar mais uma vez ao nos entregar um novo disco do “Campeão Eterno” do Epic Doom Metal. Lançado internacionalmente pela Metal Blade Records (Box, CD e LP com vinil colorido, capa gatefold e poster), e licenciado no Brasil em CD pela Hellion Records (caixa acrílica + slipcase), Forever Black é o quinto e extremamente necessário álbum de estúdio gravado pelo Cirith Ungol.
Produzido, mixado e masterizado pela dupla de músicos Armand John Anthony (guitarrista Night Demon) e Arthur Rizk (baterista Eternal Champion/Sumerlands) e com capa apresentando mais uma arte icônica de Michael Whelan, Forever Black traz em suas incríveis faixas, todos os elementos apresentados pelo grupo nos melhores anos de sua carreira, acrescentados de doses ainda mais substanciais de peso, melodia e cadenciamento, que parecem criar um efeito amplificador em todas as qualidades pré-existentes e já apresentadas em seus antecessores. Iniciando o álbum com o furioso hino Legions Arise, o disco se agiganta, de fato, quando apresenta suas influências misturadas a elementos criados ou desenvolvidos na década de 1980. E essas aulas podem ser ouvidas em peças brilhantes que se agarram firmemente na veia Epic Doom dos caras, como em The Frost Monstreme, Stormbringer, Fractus Promissum, Before Tomorrow e Forever Black.
Melhor disco de Heavy Metal do ano? A cada audição aumenta a certeza de que sim, e diretamente proporcional a desconfiança de que esse título não é suficiente. Que venham muitos outros! Vida Longa ao Cirith Ungol!

Tracklist
01. The Call (instrumental)
02. Legions Arise
03. The Frost Monstreme
04. The Fire Divine
05. Stormbringer
06. Fractus Promissum
07. Nightmare
08. Before Tomorrow
09. Forever Black

Mais Cirith Ungol no Sonorizando:
Frost And Fire (1981)
Paradise Lost (1991)
Servants Of Chaos (Compilation - 2001)

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