800. IRON MAIDEN - SENJUTSU

Lançamentos de discos de bandas gigantes e icônicas, que possuem legiões de fãs de várias faixas etárias e completamente apaixonados, como Metallica e Iron Maiden, são e estão, cada vez mais espaçados - muito pela intensidade e tamanho das turnês promovidas por ambas -, levando, inevitavelmente, a um acúmulo absurdo de expectativas em torno desses materiais. Para muitos desses fãs, é um prazer ver sua banda favorita ainda lançando novas músicas e mostrando ainda criatividade e competência técnica na criação de composições que extendem o seu legado. Já para alguns outros, cada um desses novos trabalhos, por não dar continuidade ao que as bandas faziam em seus primeiros anos, soa como uma afronta e um sinal imperdoável de decadência.
Em 03 de setembro desse ano, o próprio Iron Maiden escreveu mais um capítulo dessa história ao finalmente lançar seu décimo sétimo álbum de estúdio, depois de longíquos seis anos do lançamento de seu antecessor, The Book Of Souls e, de segurá-lo, depois de finalizado, por mais de um ano em forte segredo (o disco foi gravado no início de 2019, durante uma pausa da útima turnê Legacy Of The Beast) até começar a apresentá-lo a partir de uma empolgante campanha mundial que intrigou e animou imprensa especializada e fãs, jogando ainda mais para cima a, já alta, expectativa em torno de seu lançamento. Com enigmas lançados em imagens e textos na internet, que aos poucos foram decifrando datas e títulos, surgia Senjutsu, trazendo como tema do título e de capa o Japão Medieval, e apresentando um novo visual do mascote Eddie, dessa (mais uma) vez como Samurai, e novamente desenhado pelo colossal artista britânico Mark Wilkinson.
Com seus mais de oitenta minutos de duração, Senjutsu é o segundo álbum do Iron a ultrapassar essa barreira e também o segundo trabalho de estúdio a ser lançado em CD duplo (o primeiro foi justamente o antecessor The Book Of Souls). E justamente da minutagem do álbum surgiu a primeira grande polêmica, faixas longas, várias delas acima de oito minutos de duração e, três delas, acima dos dez minutos, davam a certeza de mais um álbum da donzela tomado por composições mais progressivas, de introduções lentas e climáticas, que tornou-se extremamente comum em todos os discos do grupo lançados a partir da segunda metade da década de 1990.
Mas quem se precipitou atirando pedras antes de escutar Senjutsu em sua íntegra (exatamente como deve ser), mesmo após o lançamento dos dois primeiros ótimos singles, que tomaram forma com a surpreendente The Writing On The Wall, canção ultra épica, direta, com solos espetaculares de Adrian Smith e claras influências do Southern Rock norte americano e, Stratego, faixa empolgante, com as típicas cavalgadas do baixo de Steve Harris e a cara do Maiden na segunda metade dos anos 1980; não poderia estar mais enganado em relação ao conteúdo apresentado por Steve Harris, Bruce Dickinson, Nicko McBrain, Janick Gers, Adrian Smith e Dave Murray, nesse novo álbum.
Diferente dos últimos quatro ou cinco discos da banda, Senjutsu consegue apresentar um Iron Maiden que surpreendentemente consegue sim, ir muito além dos já citados clichês das músicas exageradamente longas, com inícios lentos repetitivos e mudanças previsíveis que passam a sensação de já serem conhecidas de outros discos e que prejudicaram discos mais recentes. Aqui, o quarteto formado por Harris, Dickinson, Smith e Gers, aposta em composições que apresentam os mais conhecidos elementos da sonoridade da banda mas, buscando sempre a fuga de sua zona de conforto, proporcionando elementos marcantes como a hipnotizante batida da faixa título, a gritante melancolia da linda balada Darkest Hour, e as absurdas e surpreendentes mudanças de tempo (e de rumo) das melhores faixas do disco, Lost In A Lost World, The Time Machine, The Parchment e Hell On Earth.   
Com grande atuação do trio de guitarristas que apresenta nesse disco sua melhor performance coletiva desde o início dessa formação em Brave New World (2000), com destaque para algumas das melhores atuações individuais de Janick e Adrian nesses últimos anos; de Bruce Dickinson, que após superar o câncer na garganta há seis anos, vem adequando cada vez melhor, os limites e maturidade de sua voz ao atual som do sexteto, o que vem possibilitando seu ótimo trabalho em diferentes e diversos timbres (esse disco, por exemplo, é repleto disso); e, a cozinha, com um surpreendente trabalho de Nicko, que entrega em Senjutso algumas de suas melhores linhas de bateria desde a década de 1980 e, finalmente, o chefe da porra toda, Sir Steve Harris, com suas onipresentes linhas de baixo e, principalmente, ainda brilhante na criação de composições fortes e épicas, verdadeira alma do Iron Maiden.
Emocionante, empolgante e épico como poucos discos lançados após Seventh Son Of A Seventh Son de 1988, Senjutsu me parece, verdadeiramente, nascer como um desses gigantes. Já sua manutenção nesse hall, só o tempo para confirmar. Que o Iron Maiden continue na ativa ainda por muitos anos, lançando grandes discos como esse e, fazendo a alegria de seus fãs, sejam eles apaixonados ou inconformados. 

Tracklist
Disco 1
01. Senjutsu
02. Stratego
03. The Writing On The Wall
04. Lost In A Lost World
05. Days Of Future Past
06. The Time Machine
Disco 2
01. Darkest Hour
02. Death Of The Celts
03. The Parchment
04. Hell On Earth

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Official Video - The Writing On The Wall
Official Video - Stratego (Adult Swim)

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