896. THERION - LEVIATHAN II

Não canso de remeter à pomposa e megalomaníaca obra The Beloved Antichrist ao pensar em quão exageradamente longe pode ir a mente de Christopher Johnson, dono, guitarrista e principal compositor da banda sueca de Metal Sinfônico Therion. A ópera em três atos era um desejo antigo de Christopher, que só começou a tomar realmente forma após o lançamento do inusitado álbum de covers Les Fleurs Du Mal (2012), compilação contendo clássicos da música francesa no habitual formato operístico do grupo. Após a fria (para dizer o mínimo) recepção a The Beloved Antichrist, até (e por que não dizer, principalmente) por parte dos fãs mais entusiastas, C.J. não contentou-se em lançar mais um disco isolado e de tema mais livre com o Therion para virar essa página, fez exatamente o contrário, anunciou o lançamento de uma sequência de discos que trariam o mesmo grande conceito e formariam uma trilogia, a primeira de sua carreira.
A ambiciosa obra, novamente lançada pela banda através da Nuclear Blast Records (e no Brasil por sua parceira, Shinigami Records) recebeu o pomposo nome de Leviathan, besta aquática demoníaca que, segundo mitologias como a fenícia e hebraica, possui tamanho colossal, é um dos príncipes que dominam o inferno e porta a representação direta do pecado capital da inveja. O primeiro capítulo dessa obra foi lançado no ano de 2021, trazendo além dos músicos que compõem a formação atual do Therion, como os guitarrista Christian Vidal e o próprio Chistopher Johnson, os vocalistas Lori Lewis e Thomas Vikström e o baixista Nalle Påhlsson, as participações especiais dos vocalistas Marco Hietala e Mats Levén, o ex baterista/vocalista Snowy Shaw entre outros.
O segundo capítulo dessa trilogia recebeu o nome de Leviathan II e foi lançado já no ano de 2022, é o décimo oitavo album de estúdio do Therion e traz a banda expandindo o conceito em torno de figuras bestiais demoníacas mitológicas. Christopher apresenta também a mesma espinha dorsal do trabalho anterior (formação que segue junta desde 2010), com o baterista Björn Höglund assumindo completamente a gravação da bateria, que dividida com Snowy Shaw no primeiro capítulo. Musicalmente, essa segunda parte é bem menos direta e pesada que seu antecessor, apresentando composições que continuam à margem do Metal pesado de outrora e que se abraçam firmes ao lado mais operístico e erudito do grupo, tanto no uso de corais, tenores, sopranos, como no uso de instrumentos como violinos, violoncelos e flautas, o que pode tornar necessário o uso de audições extras para conectar esse material à primeira parte da obra, sendo aí o momento ele passa a realmente funcionar, sendo compreendido como parte de algo bem maior, para além de um simples capítulo de transição.
Fato é que, desde Gothic Kabbalah (2007), Christopher botou pesadamente o pé no freio de suas composições em relação ao Metal, apesar de manter elementos, como seus característicos riffs mais pesados e o uso de vocais mais ligados ao estilo, sempre presentes, e a sonoridade do Therion tem, hoje, muito mais conexões entre o Rock e a música erudita, do que nos discos lançados anteriormente, mesmo com o belo suspiro dado no subestimado Sitra Ahra (2010). A trilogia Leviathan, em si e como muitos fãs mais antigos gostariam, não remete ao período de auge da banda dentro da música pesada, quando lançou obras primas Como Lepaca Kliffoth (1995), Theli (1996) e Vovin (1998) mas, da um grande salto de distância em qualidade, da exagerada e pretenciosa ópera Beloved Antichrist (2018). Essa guinada afastou muitos fãs originários da banda - provavelmente da mesma forma que a mudança do Death Metal para o Metal Sinfônico fez - mas, ao mesmo tempo, provavelmente apresentou o grupo para uma nova leva de pessoas que conectam-se muito mais a esses lançamentos mais recentes. 
Sinto-me um privilegiado por gostar de todas as fases e continuar a curtir os novos trabalhos do grupo (em uma trajetória pessoal de mais de vinte anos os acompanhando), mesmo com algumas exceções e altos e baixos pelo caminho, temos em Leviathan II algumas excelentes composições que muito provavelmente agradará a base de fãs mais recente, como Litany Of The Fallen, Alchemy Of The Soul, Marijin Min Nar, Codex Gigas e Pazuzu. Que venha então a parte final de Leviathan.

Tracklist
01. Aeon Of Maat
02. Litany Of The Fallen
03. Alchemy Of The Soul
04. Lunar Coloured Fields
05. Lucifuge Rofocale
06. Marijin Min Nar
07. Hades And Elysium
08. Midnight Star
09. Cavern Cold As Ice
10. Codex Gigas
11. Pazuzu


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